domingo, 28 de fevereiro de 2021

O Grimório do Kadin, pág 8

A Arte, Pt2

    Mas se precisamos de meros movimentos casuais para conjurar magia, por que os afazeres do dia a dia não conjuram? Se palavras são necessárias para conjurar, como alguém pode dizê-las normalmente? Se runas podem ter efeitos mágicos, como escrever um livro de runas sem que ele se exploda? É importante estar atento aos detalhes, cada ação pode ser mundana ou mágica, dependendo meramente de quem a executa. Chamam isso de Afinidade, característica que define quão fácil é para o conjurador ter seu desejo interpretado pela Mana. E essa "afinidade" muda não só de pessoa para pessoa, muda também conforme seu domínio da Mana, e muda de tempos em tempos de formas um tanto difíceis de compreender. Os mais religiosos chamam simplesmente de "amados pela Mana" ou algo assim. Eu discordo: a Mana é inconsequente, e aqueles "amados pela Mana" devem tomar cuidado com mesmo seus pensamentos mais inconscientes ou essa bênção se torna uma maldição.
    Já aqueles "não amados", a grande maioria de nós diga-se de passagem, devem se esforçar para ter seus desejos interpretados. A mente limpa e clara não é algo fácil de alcançar, num momento de urgência é menos ainda, e uma magia complexa eleva o grau de dificuldade a níveis impensáveis. Para ajudar a manter o foco durante a conjuração assim como ajudar a ter seu desejo interpretado corretamente pela Mana, nós usamos de nosso próprio meio de comunicação, a fala.
    Damos nomes as coisas, e com isso sabemos claramente o que os nomes representam. Por isso foi criada a linguagem Arcana, uma linguagem com o menor nível possível de ambiguidades, mas exatamente por isso o maior números de palavras. Mas não importa que língua use, desde que clareie sua mente e transmita seu desejo, alcançou seu objetivo. Similarmente são os movimentos, diminui a carga mental se movimentarmos a mana com nosso corpo. Um pouco de treinamento pode ser necessário, porém. As runas são mais difíceis de entender, não é como se um símbolo pudesse desejar alguma coisa, afinal seu sentido depende de quem escreve, mas o efeito acontece para quem vê. Os materiais por outro lado são os mais versáteis e interessantes: servem como catalisadores pro efeito, ou até modificam eles. Extremamente úteis para as magias complexas, eles podem oferecer o conhecimento que não temos, e durante a interação da magia com estes materiais os efeitos podem ser alterados dramaticamente.
    Como pode ver, no fim tudo se resume à capacidade do conjurador de transferir sua vontade para a Mana. Aqueles que estudam a natureza e buscam entender os fenômenos mais estranhos da magia, conhecidos como Magos, usam esse conhecimento para criar magia. Aqueles que conseguem conjurar devido a alguma ascendência, como os Feiticeiros ou seres como os dragões ou fadas, aproveitam de uma afinidade natural com determinados elementos e um conhecimento cultural de determinados conceitos. Aqueles que receberam o poder de conjurar de outros seres, como Clérigos ou Bruxos, usam uma espécie de canal com este ser como catalisador ou como fonte do desejo que será passado para a Mana. Os Bardos conseguem conjurar pois conseguem transferir não só conhecimentos para a Mana, mas conceitos inteiros através de sua arte. Damos nomes às coisas, mas cada uma dessas "profissões" nada mais são do que pessoas diferentes que encontraram formas diferentes de "conversar" com a Mana. Poderíamos continuar indefinidamente nomeando cada "profissão", como os Xamãs que parecem ser uma mistura de Feiticeiro e Bruxo ou os Teurgistas que são uma espécie de Magos Divinos. Seu caminho é você quem faz.
    Seu caminho é você quem faz. Cada um tem sua própria forma de se fazer ser entendido pela Mana. Você pode até ter sucesso em copiar como os outros fazem para conjurar, mas só você sabe como é a melhor forma de organizar seus pensamentos para passar sua vontade, só você sabe como movimentar seu corpo, como controlar sua Mana. Inspire-se no sucesso e no fracasso dos outros, mas trilhe seu próprio caminho.


Tá parecendo livro de autoajuda.  =p

    Bom, preciso continuar desenvolvendo como acontece a Manifestação, quero me focar num sistema em específico mas sempre que tento acabo voltando pros termos gerais. Sempre me foi mais fácil enxergar o geral mesmo, não é novidade. Muita coisa foi definida nestes 2 últimos posts, percebi que era importante analisar e preencher algumas lacunas. Nisso acabei criando mais, essa tal de Afinidade nunca me passou pela tão claramente, embora definitivamente o conceito esteve desde o começo em um canto ou outro dos pensamentos. E mais, tem desculpa melhor para explicar as inconstâncias da magia do que essa? 

    Não gosto da ideia de que a habilidade de alguém, o destino de alguém, seja decidido no momento que esse alguém nasce. Mas ao mesmo tempo, eu disse antes: a vida é injusta. Pessoas nascem diferentes, na Confluência essa diferença passa a ser ainda maior o se considerar que não tem só humanos entre as criaturas inteligentes. E Afinidade pode ser exatamente essa característica que define a diferença entre 2 conjuradores, que tiveram pontos de partidas semelhantes, tempo de estudo semelhantes, acesso aos mesmos conhecimentos... Não só isso, nada impede que ela seja alterada com o decorrer do tempo através de vários fatores, treinamento extensivo, poções exuberantes, bênçãos divinas... Poxa, até mesmo o estado emocional pode alterar a Afinidade e fazer com que uma magia se torne mais poderosa num momento crítico! (clássico aumento de poder repentino quando fica puto). 

    Também nunca cheguei a falar da linguagem Arcana, e ela de repente apareceu. Em termos de história isso seria conhecimento comum, uma linguagem mística usada pelos conjuradores, e que nem eles mesmos sabem a língua corretamente. Em temos de desenvolvimento do sistema de magia ela é uma consequência, nascida da necessidade de trazer de volta o misticismo da magia. Já tem bastante tempo que estou criando um sistema para conjuração de magia que faça sentido, e a ideia de que a Mana parece ter uma espécie de consciência parcial sempre rodou minha mente, assim como a ideia de que a conjuração depende da Mana entender o que é para acontecer antes de.. bem, acontecer. Já venho desenvolvendo as páginas anteriores tomando isso como linha de base, não quero ter que explicar cada lei, e sim criar apenas uma lei que rege geral o comportamento da Mana e tratar as exceções depois. 

    Enquanto criava acabei dando uma variada na linha de pensamento que decidi por deixar ali, primeiro por que ficou legal, segundo por que ainda tem contexto. Digo à respeito das classes conjuradoras, uma passagem superficial sobre a diferença fundamental das classes. Aqui digo classes conjuradoras pois é como as diversas histórias e jogos os tratam, mas quero remover as correntes que limitam um conjurador, devido aos jogos essa classificação acabou ficando invertida, a classe definindo a magia. Está errado, as pessoas que especializam em algum tipo de magia que receberam nomes, o certo é as magias que alguém conjura que define sua classe, e se não tiver uma classe que engloba as magias escolhidas não é problema, afinal o importante são as magias e não nossas formas de classificar as coisas. 

    Este tema está se provando mais complexo que imaginei inicialmente, e já esperava que fosse ser complexo. Definir como acontece a Manifestação da Magia sem descartar tanta coisa deixa meu trabalho mais difícil, mas ao mesmo tempo o resultado disso vai ser muito mais satisfatório, não estou com pressa pra terminar, quero fazer bem feito. E os próximos passos já foram definidos: detalhar mais sobre as regras da Transformação e da Manifestação, só quando eu conseguir conjurar uma magia mais complexa que Luz que eu vou feliz. =D